Lemingue

Author: Henrique Alvez /

Já havia decidido isso no momento em que a maior revelação que poderia ter-me sido feita veio à tona. Mesmo assim demorei a efetivamente mover meu corpo para o que seria seu fim. Sim, estou a caminho do suicídio.
   
Sei, parece artificial quando falo sobre o assunto tão deliberadamente, mas acontece que é uma idéia tão antiga que repousa em minha mente, que talvez já tenha me acostumado a ela.
  
 Estamos no mês de Junho, um inverno maldito de frio cortante e chuvas mal-vindas em uma bosta de cidade que mal me atrevo a proferir o nome. Acordo cedo como de costume às quatro da manhã, assisto às aulas que preciso assistir na escola, me despeço de meus amigos e parentes dissimulados, volto pra casa e torno a sair arrastando os pés de forma similar a meu ranger de dentes.
    
Já a caminho do anjo negro, levo comigo a mochila abarrotada com alguns objetos supérfluos os quais vejo necessidade de me despedir antes da derradeira partida. Supérfluos sim, porém mais valiosos que muitos indivíduos que deixarei para trás.
    
Sou pobre em expressar meus sentimentos, mesmo quando tento descrevê-los em palavras, por isso pareço um pouco sistemático e frio falando sobre futuro óbito, mas acredite em mim quando digo que tenho sérios pretextos e minha tristeza não cabe em mim de tão grande. Na verdade, mancho as páginas que escrevo com meu pesar liquefeito. Tremo a caneta a cada linha que precisa ser traçada para formar o veículo imperturbável que servirá de legado aos que por algum motivo possam sentir a falta de alguém tão desirmanado e fora do mundo real.
  
                                            ***

   O prédio era um dos maiores da cidade, o que não significava muita coisa. Peguei o elevador assim que pisei no hall de entrada, passando despercebido pelos seguranças ineptos da portaria de vidro.
   
Um. Pesar... Dois. Maldição... Três. desastre... Sete. Lamúria... Treze. Desespero...Vinte e dois. Lágrima...Vinte e três. calma. Pim, tocou a campainha que indicava minha chegada ao último andar do prédio. Um nível vazio, obscuro, mofado e inabitado, exatamente como me sentia havia tanto tempo.
    
Caminho pelos gêmeos corredores nuviosos, tendo plena consciência do trajeto que preciso fazer. Chego finalmente à escada que me leva para o terraço e levanto meus passos arrastados por toda sua extensão, até que o céu se abre sobre minha cabeça fervilhante.
     
Tirano azul, limpo. Chega a inspirar certa paz, ainda que momentânea. Á direita, a crista dum prédio um pouco mais alto, à esquerda o vislumbre das montanhas que se vistas mais à frente seriam flagradas cercando grande parte da cidade. Mas era à frente que encontrei o mais curioso.
   Devia partilhar da mesma juventude que eu. Ligeiramente mais encorpado, cabelos esvoaçantes e pele alvíssima. Estava de pé no limite entre o chão do terraço e o baque de encontro à estrada vinte e três andares abaixo.
 









 Outro suicida...

[continua]

9 comentários:

Unknown disse...

Que texto! Cara você escreve muito bem! Seus textos são intensos! Me apeguei a ele em toda a leitura! o estilo que eu gosto! Perfeito!

Garota de Várias Faces disse...

caraa, eu vou ser sincera e vou lgoo te dizer ki ñ gostei do seu texto não, sem emoção e com uma linguagem minha molhada!
mas não fique triste, isso é apenas a minha opinião, como vc pode ver aih encima teve gente ki gostou!



http://diariodagarotadevariasfaces.blogspot.com
visita o meu blog? me dá esse prazer ;)

Laura Saldanha disse...

Segundo texto seu que eu vi falando sobre suicidas. Uhnnn...
Eu nunca me suicidei(:B), mas sei que como é perder alguém que se ama por esse motivo e por isso descobri que nossa vida não é só nossa. Não podemos fazer o que quisermos com ela. E repito isso todo dia. Para meus amigos e para mim. Morrer é muito fácil, fato. Mas a vida não é um labirinto. Sempre podemos encontrar uma saída melhor do que a morte.

Ah, você escreve muito bem, parabéns você tem um grande talento. Felicidade sempre :)

Anônimo disse...

Muito bom o seu texto. Achei bem interessante a sua iniciativa de falar de um assunto tão comum em nossa atualidade, e principalmente, na pele do suicida.

Aguardo sua visita.
Beijos, e boa noite!

bia santos disse...

Morro de medo de altura...

E senti uma vertigem só de ler o post e ver as imagens...

Espero que o cara não pule...

Gostei muito do template do blog, nunca tinha visto um desses

Alex Azevedo Dias disse...

"Um nível vazio, obscuro, mofado e inabitado, exatamente como me sentia havia tanto tempo." Frase que me impactou singularmente, contextualizada na totalidade do seu conto. Será que o encontro com alguém - "outro suicida" - exatamente nas condições do protagonista/narrador terá um efeito de incentivo para a realização do ato, ou, ao contrário, uma possível identificação entre ambos que permitiria o declínio da intenção primeira? Aguardarei cenas do próximo capítulo, ansiosamente! Você é e será um grande escrito! Bom encontrar essa qualidade por aqui... Abraços!

Bersebah disse...

Grande Henrique!

Meu caro amigo, preiramente tenho que dizer que fiquei bem impressionado com o novo visual de seu blog, que ficou simplesmente sensacional, apreciei bastante, está nota 10!

Alem disso quero te agradecer bastante pelo apoio em meu blog, fico muito grato por isso, pois, começar e me manter na faculdade não é algo tão fácil, pois exige compromisso, e bastante dedicação. E por isso o apoio de amigos, e pessoas queridas é sempre muito bom.

Sobre seu texto eu tenho a dizer que apreciei bastante o que escreveu.
Não pela história do suicida, pois...é um relato triste...ja tive contato com várias histórias de suicidas, inclusive de alguem que conheci. Mas curti a história pela forma como conseguiu narrar, puxando o sentimento de indignação e tristeza que percorre o corpo do protagonista da história.
E será que ele ira se suicidar?
Fiquei bastante curioso em saber!

Isso me lembrou uma história que escrevi na empresa(por mais incrivel que possa parecer), e todo mundo que leu lá curtiu.
Na verdade é algo que pretendo escrever um livro, mas...faltam ainda alguns conhecimentos a mais para poder melhor redigir o continuar de meu conto.
Se quiser posso te mandar, acredito que possa gostar, basta me passar seu e-mail que eu te envio.

Ademais é isso meu amigo, mais uma vez parabéns pelo talento, pela estruturação de seu espaço, e pelo jeito amigavel de sempre.

Um grande abraço!

Wendel aka Bersebah

Uvirgilio disse...

O homem e o desejo da morte, o desejo de não ser.

Unknown disse...

Ótimo! As vezes é em um motivo que agente menos imagina que surgem coisas maravilhosas... Como isso! ;) Bjus

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