Esta é a parte final, por tanto não saia lendo de uma vez ou você não vai entender absolutamente nada.
Há mais duas partes da história.
Está dividido porque fiquei com vontade de dividir. (mentira, está dividido porque sei que todos são preguiçosos e não leriam o texto se ele fosse postado de uma vez só, além de um motivo a mais, que você que realmente lê os textos, vai entender no final.)
Faces 3
O homem também a reconheceu, seus olhos ganharam o dobro do tamanho temporariamente, e logo depois, sua expressão tornou a ganhar um ar frio de momentos anteriores. Por um momento os dois ficaram parados se encarando. Ele estava imóvel, a mão ainda segurando a maçaneta da porta que antes abrira. Ela tremia dos pés às pontas dos cabelos bagunçados, os olhos embaçados por lágrimas que já não mais podiam ser contidas.
Lentamente ela virou-se e dirigiu-se em direção ao carro ali estacionado, os primeiros sinais de seu pranto escorrendo pelo rosto cansado que não desgrudava o olhar do chão a caminho do que a tiraria dali.
Dia seguinte.
"O que houve ontem?", perguntava a babá que agora almoçava junto à patroa na mesa da cozinha mal iluminada.
"Nada que valha a pena ser lembrado" Disse a mulher. Seus olhos tinham o cansaço acentuado agora. Estavam inchados de tanto chorar.
"É evidente que vale a pena", insistiu a moça. "A senhora partiu aos prantos, e repentinamente."
"Não deveria ter feito isso, me desculpe"
"Vocês se conhecem?"
A pergunta da empregada atuara como um golpe monstruoso no estômago da mulher, que agora via mais uma vez em sua cabeça, cenas que ela não mais suportava lembrar-se. A cabeça caiu sobre o peito, e junto com ela uma nova lágrima.
"Não.", respondeu ela, soluçante.
Por um momento, a moça negra não soube o que dizer, mas precisava descobrir o que se passava com a patroa, que acima de tudo era uma boa amiga para ela, e a ajudava sempre que precisava.
"Tudo bem não querer falar agora."
A mulher não respondeu.
"Tem alguma coisa que eu possa fazer, antes que a senhora saia?", perguntou, em uma última tentativa.
"Volte ao seu trabalho." Respondeu a mulher ainda cabisbaixa e melancólica.
Mas foi enquanto a babá se levantava e dirigia-se ao quarto dos gêmeos, que uma idéia saltou a perturbada mente da patroa. Um ato de coragem que faria justiça a tudo o que ela passara durante os últimos três anos. Seria um ponto final simbólico que ela esperava amenizar um pouco a dor que as terríveis e incessantes lembranças lhe causavam.
"Sara, espere.", chamou a mulher. "Me diga o nome do seu marido."
"Samuel Pereira"
"Obrigada"
Ela saiu para o trabalho. Mas antes, precisava por sua idéia em prática, agora que ela tinha o que precisava só lhe faltava a coragem, e isso ela achava que tinha o suficiente.
Caminhou pelas ruas frias da cidade em busca de um orelhão.
Finalmente após encontrar um, parou em frente a ele e, sem pensar de mais, começou a discar.
"É da delegacia da mulher?"
A voz ao outro lado da linha respondeu positivamente. Ela respirou fundo e continuou
"Eu gostaria de fazer uma denúncia..."
A mulher do outro lado pediu que ela prosseguisse
"Faz três anos que aconteceu, mas tudo pode ser provado por um diário que certamente ainda se encontra na residência do autor do crime"
Pediram que dissesse seu nome e do que se tratava o crime, para que depois fossem fornecidos os detalhes.
Ela encheu os pulmões mais uma vez e respondeu:
"Meu nome é Carmen Dias. Quero meu estuprador preso"
Sobrevivente
Author: Henrique Alvez / Marcadores: PoemasSobrevivente queria me ver
Sobrevivente queria conversar
Sobrevivente Parecia sofrer
Precisava comigo estar
Sobrevivente não pôde me ver
Sem um grande sorriso abrir
Sobrevivente não quis me abraçar
Para seu apreço não admitir
Sobrevivente quis se sentar
Para melhor conversar
Sobrevivente começou a falar
E eu a me assustar
Sobrevivente vai se matar
Não aguenta mais amar
Sobrevivente quer morrer
Não quer mais sobreviver
Sobrevivente se levantou
E eu junto me ergui
Sobrevivente me parou
Mas eu a queria impedir
Sobrevivente fugiu
Sua morte tinha hora
Em desespero partiu
E eu a seguindo, rua afora
Sobrevivente parou
O abismo era impiedoso
Sobrevivente me segurou
Em um beijo cauteloso
Sobrevivente se jogou
Sobrevivente se matou
Sobrevivente morreu
Não mais sobreviveu
Querido diário...
Hoje foi mais um dia ordinário e desprovido de pasmos, porém deveras fecundo, pois tudo correu como o esquematizado.
É por isso que lhe digo (Por mais que um caderno não possa absorver bons conselhos): Planejar é uma arte e versá-la é o ato mais sensato que pode ter um ser humano.
Pois bem, se virar a página saberá o que pretendia que se incidisse hoje, por isso irei direto à execução de meu grandioso plano.
Carmen estava lá, linda como todos os dias. Eram seis horas da manhã e uma grosseira mochila a deixava ligeiramente corcunda. Sempre achei que os milhares de chaveiros fizessem uma considerável diferença no peso que o item fazia sobre suas costas.
Foi então que o ônibus finalmente chegou. Era hora de executar a primeira parte do plano.
Observando-a por poucos dias (os quais me esqueci de narrar a você) pude perceber algumas coisas que proporcionariam meu sucesso nesta primeira etapa.
1 – Havia uma velhota e uma aleijada que sempre chegavam pouco depois das 6:15 e pouco antes que chegasse a condução.
2 – O primeiro a entrar sempre era o mesmo, um homem alto, magro e de olhar penetrante. Também era o primeiro a saltar em todo o percurso, junto a uma criança de uns sete anos que embarcava no ponto seguinte.
3 – Carmen era gentil, e fazia questão de entrar por último.
4 – Ela sempre viajava de pé e no mesmo lugar.
Entrei no ônibus logo atrás da aleijada, fazendo questão de ajudá-la e dando a entender que estávamos acompanhados. Apressei-me em sentar ao lado do homem de olhar penetrante e, como o esperado, Carmen parou do outro lado, exatamente como fizera todos os dias em que eu a observei encantado por sua beleza e pela forma atraente como se comportava.
A cutuquei, fazendo-a virar seu belo rosto sorridente em minha direção. Um pouco extasiado, perguntei se podia levar sua mochila e agradecida, virou-se completamente, entregou-me o trambolho e preparou-se para viajar de pé a minha frente.
Três pontos se passaram, e os dois primeiros a descer o fizeram. Um deles era o homem ao meu lado, eu abri passagem para que saísse e logo depois migrei para o banco abaixo da janela.
Então olhei para os olhos dela, lancei o olhar mais convidativo que consegui manipular e, sem dizer uma só palavra, a convidei a se sentar.
Apartir daí eu precisei confiar em mim mesmo para que tudo continuasse dando certo. E eu consegui. (risos)
Fomos conversando até o final do percurso do ônibus, onde os dois desceriam para os próprios destinos. Perguntei quando ela estaria disponível, esperando levar uma patada descomunal que arruinaria meus planos, mas ela apenas respondeu que depois da escola precisava ir à sua aula no curso de inglês, e que saía de lá pelas 15:30.
Com seu número salvo na memória do celular, segui rumo ao meu destino rotineiro, esperando ansiosamente que os ponteiros do relógio formassem um ângulo de 90 graus (gostei disso).
15:30. Fui até a porta do seu curso de inglês. Ela pareceu animada em me ver, o que me deixou muito mais feliz e seguro. Perguntei se queria comer alguma coisa, ela respondeu positivamente e decidimos tomar um milk-shake (ninguém come milk-shake, mas o importante é o êxito do plano).
Ao chegarmos, parei no pequeno quiosque de milk-shake que ficava num dos cantos da entrada da lanchonete. Hora da segunda parte do plano que dependeu do acaso (e de minha evidente virilidade) para prosseguir, rsrsrsrs (ainda não sei o que me faz rir da maneira como faço no computador... Faz parecer tão imaturo).
Pedi que se sentasse e esperasse eu levar as duas bebidas na mesa, e ela o fez.
Após receber os pedidos, deixei algumas moedas caírem propositalmente no chão. Com isso,o funcionário me proporcionou tempo suficiente, abaixando para recuperá-las.
Me dirigi a mesa e a entreguei o milk-shake que pediu. Passados poucos minutos de conversa, finalmente ela cambaleou e despencou em direção ao chão.
Contendo o sorriso, eu simulei preocupação e a peguei no colo, disse a todos que era o pai dela e que tudo estava bem. A enfiei num dos táxis que estavam parados (fazia parte do plano escolher uma lanchonete em frente a um ponto de táxi), e ainda fingindo desespero, falei para que nos levasse para casa.
Finalmente chegamos e o plano atinge seu grande clímax.
Agora ela está amordaçada.
Estou apenas esperando que acorde para drenar sua doce inocência com toda a minha experiência.....